12.29.2007

o vice-verso

Encontrei graça ao descobrir-me em vazio. O passado passou a vir à mim performático, trazendo lembranças embrulhadas em cartas amassadas e insistindo em percursos nunca sabidos possíveis. Sonhei tocar o tempo paralelo até quase sentí-lo. Voltavam-se para mim as palavras. Ditavam o que um dia foram planos, agigantavam-se. Pareciam lutar contra as paredes de meus ouvidos. Chegaram a se untar em melodia, mas haviam esquecido de sua impotência diante do vácuo. Clamavam vãs, já não me invadiam. Em meus ombros pude sentir a leveza, liberta de si. Já não preferia o mal ou o bem; insinuar contentava-me. Recordei então meus primeiros versos. Espantei-me diante de mim. Brilhavam falsos, secos de verdade. Quis ter chovido, mas não poderia. Balbuciei-me e pus-me a cantar o que um dia havia sido. Agora constituia o nada, transbordava vazio. Enfim.


Atrás do arranha-céu tem o céu, tem o céu
E depois tem outro céu sem estrelas
Em cima do guarda-chuca tem a chuva, tem a chuva
Que tem gotas tão lindas que até dá vontade de comê-las.

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