12.29.2007

merthiolate

de repente o tempo passou deixando uma poeira fina, dessas invisíveis aos transeuntes, mas sensíveis aos pés desnudos. e passa mais tempo e deixa mais poeira, acinzentando o frescor do instante. então pressinto o mar virar sertão, esperançosa de que o sertão enfim vire mar.
e virará!


bato à porta de 2008 com uma trouxa de sonhos e esperanças às costas. e com o eterno desejo de mudanças e constâncias.



For your sad cold days
A little bit of sunshine
Feel drops of water and footsteps
The soul pushes against the stairs alone
With pianos in your hair
That's when I wish for you in the train station

saudades plurais

Inpirava mais um instante, aquele instante!
Expirava-se, absolvia-se.
Morria inconscientemente.






Libertas Quae Sera Tamen

o vice-verso

Encontrei graça ao descobrir-me em vazio. O passado passou a vir à mim performático, trazendo lembranças embrulhadas em cartas amassadas e insistindo em percursos nunca sabidos possíveis. Sonhei tocar o tempo paralelo até quase sentí-lo. Voltavam-se para mim as palavras. Ditavam o que um dia foram planos, agigantavam-se. Pareciam lutar contra as paredes de meus ouvidos. Chegaram a se untar em melodia, mas haviam esquecido de sua impotência diante do vácuo. Clamavam vãs, já não me invadiam. Em meus ombros pude sentir a leveza, liberta de si. Já não preferia o mal ou o bem; insinuar contentava-me. Recordei então meus primeiros versos. Espantei-me diante de mim. Brilhavam falsos, secos de verdade. Quis ter chovido, mas não poderia. Balbuciei-me e pus-me a cantar o que um dia havia sido. Agora constituia o nada, transbordava vazio. Enfim.


Atrás do arranha-céu tem o céu, tem o céu
E depois tem outro céu sem estrelas
Em cima do guarda-chuca tem a chuva, tem a chuva
Que tem gotas tão lindas que até dá vontade de comê-las.

incoerências

- Porque da luz veio a Lua. E, seguindo gravidades científicas, poetas passaram a chover marés e dilatar segundos. O caos, meu caro! São igualmente malditas, culpadas do caso!
- Mas atente para a hipótese da ausências delas, amigo. Não acredita que tormento maior seria se não houvesse a quem culparmos pela crueza de nosso avesso? Vê, entende por vilã o que clamam, o que chamam de razão.
- Aversão, então, devo ter àquilo que nos propôs temporais? Soa imperfeito...
- E não seria o tino acometedor de tudo isso a que se põe contrário? Tenta o que floresce coração até murchá-lo de paixões, calça-o de Curupira para confundir as lesadas das veias em artérias lesadas, desmantela moléculas, estimula conspirações hormonais... Acaba por tornar suspiro em reflexo, o danado.
- Erra ao subestimar o coração, amigo. Mesmo maliciosa, a massa cinzenta não é quem responde àquilo que Pandora cria em cativeiro. Afinal, quanto pesaríamos se corações nos faltassem?
- E quais dissabores testemunharíamos caso de esperança fôssemos órfãos?
- Crê que a eles sobreviveríamos?
- Interessaríamo-nos?






Curiosa feito menina, com o cuidado que só muito medo faz ter, espiei pela fresta da janela de Dona Verdade. Qual foi meu susto ao vê-la ranger de amores às carícias com Mentira, la belle-du-jour.

meu inferninho

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Aqui jazem velhos silêncios